Esteróides anabolizantes androgênicos e seus riscos: o que todo médico deve saber

Os Esteróides anabólicos-androgênicos (EAA)são hormônios naturais e sintéticos cujo nome deriva da estrutura química (núcleo esteróide) e os efeitos biológicos que induzem. Anabólico refere-se à construção muscular, e androgênico a indução de características sexuais secundárias masculinas.

 

A Testosterona (T) é o principal hormônio desta classe. É utilizada clinicamente no hipogonadismo masculino. A T, e outros EAA, Nandrolona e Oxandrolona, podem ser prescritos para condições médicas como osteoporose e anemia aplástica. Além desse uso válido, são abusados por seu aumento da força e massa muscular em dosagens suprafisiológicas. 

 

Devido a alta taxa de prevalência ao longo da vida, cerca de 3,3%, embora seu uso, para fins estéticos e de melhora de performance, seja proibido no Brasil, praticamente todos os médicos em algum momento prestará cuidados a um usuário de EAA. Por isso e pelos riscos à saúde envolvidos com o seu uso, é prudente que médicos, em particular clínicos, endocrinologistas, médicos do esporte, psiquiatras, dermatologistas, nutrólogos e emergencistas, conheçam sobre os EAA e seus efeitos adversos para fornecer cuidados adequados e estabelecer relação com esses pacientes. 

 

Descontinuar o EAA é a solução preferida para quase todos os efeitos colaterais. Isso deve ser incentivado pela educação sobre os riscos e abordando questões psicológicas que mantêm o uso do AAS, como dismorfia corporal e vício. Se o paciente não estiver disposto a parar, o médico pode considerar o tratamento para reduzir os danos, como na abordagem e tratamento de fumantes e alcoólatras.

 

Após administrados os EAA se difundem para suas células-alvo e podem sofrer transformação ou se ligar ao seu Receptor Androgênico (RA). A transformação pode ocorrer em três direções: 5 Dihidrotestosterona (5-DHT), 3α-androstanodiol e Estradiol (E2).

 

A importância da transformação da T em seus metabólitos é que o DHT irá levar desenvolvimento de caracteres sexuais secundários masculinos (importante na mulher) e no homem o E2 aumenta o risco de ginecomastia e bloqueio do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Gônadas (HHG), uma vez que o E2 é até 200 vezes mais potente nessa inibição do que a própria T.

 

Os principais efeitos colaterais são:

 

Eritrocitose: ação anabólica sobre o tecido hematopoiético, aumenta a viscosidade do sangue e facilita a ocorrência de eventos tromboembólicos e doenças cardiovasculares (DCV).

 

Acne vulgar: Devido ao aumento da produção de sebo, da queratinização folicular alterada e inflamação.

 

Alopécia androgênica: Ocasionado pela transformação da T em 5-DHT, inclusive em mulheres.

 

Hipertensão Arterial Sistêmica: A HAS é importante fator de risco para DCV e danos a órgãos-alvo, causando assim morbidade e mortalidade significativas.

 

Hepatotoxicidade: Exercem efeito prejudicial no fígado, este particularmente parece ser o caso do EAA 17α-alquilados. Pode se manifestar em icterícia e prurido. Os EAA podem causar peliose hepatica, carcinoma hepatocelular e adenoma.

 

Dislipidemia:  Diminuição do HDL e aumento do LDL (principalmente formulações orais). Esses efeitos, juntamente com o aumento da PA e da viscosidade sanguínea levam a aumento do RCV.

 

Nefrotoxicidade: Risco de lesão renal e associação do uso de EAA à glomeruloesclerose segmentar focal (FSGS). A HAS pode levar a lesão direta ao rim.

 

Hipogonadismo: Inibição do Eixo HHG levando a uma condição conhecida como Hipogonadismo Induzido por EAA.

 

Infertilidade: A espermatogênese também é inibida por EAA, sendo causa comum de infertilidade masculina.

 

Disfunção Erétil: em geral após o uso de EAA, pode ocorrer durante o uso ou ser um sintoma de distúrbio psiquiátrico subjacente, comum nesse grupo de pessoas.

 

Ginecomastia: Tem causa hormonal, pelo desequilíbrio de ação androgênica e estrogênica na mama.

 

Miocardiopatia: Ação direta dos EAA sobre o musculo cardíaco leva a hipertrofia. As lesões mais comuns são hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo (VE) e deficiência de relaxamento do VE. Maior risco após anos de uso contínuo, e é principal causa de morte súbita entre usuários.

 

Efeitos colaterais em mulheres: Disfonia, hirsutismo, hipertrofiam do clitóris, alterações dos ciclos menstruais, infertilidade, aspectos corporais virilizantes.

 

Cérebro e comportamento: adição, irritabilidade, agressividade, depressão, alteração do humor, ansiedade, alterações cognitivas e psicose.

 

Apesar de os EAA serem amplamente utilizada por atletas e indivíduos em busca de melhora de estética por promoverem o objetivo principal de aumentar a força, a massa muscular e melhorar a composição corporal, seu uso não é isento de riscos. Conhecer dos efeitos colaterais, que variam de problemas cosméticos, como acne vulgar e alopécia, a potencialmente fatais, como DCV, é muito importante para que os médicos das várias especialidades, reconheçam a patologia associada e forneçam os cuidados para esse grupo de pacientes, bem como possam esclarecer os indivíduos que desejam iniciar o uso desse grupo de medicamentos.

 

Dr. Moacir Bezerra – CRM: 6999 / RQE Nutrólogo 7476 / RQE Ortopedista 2609 Médico Preceptor da Residência Médica de Medicina do Esporte -SEJUV/ESP-CE @dr.moacirbezerra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Previous post Por uma Medicina com qualidade
Next post “Em Deus, nós confiamos. Todos os outros tragam dados”