Breve mensagem aos futuros médicos
Nos seis anos de preparação como estudantes de medicina, os senhores terão a sublime oportunidade de penetrar na grandeza e nos mistérios do homo sapiens demens, em seus diversos momentos de alegria, esperança, angústia, aflição ou perigo. O restante de seus dias, ao concluir o curso, será certamente um eterno caminhar, por vezes, em invios percursos, ao lado de nossos irmãos, ricos ou pobres, crianças, adultos ou idosos, em qualquer tempo ou lugar. Os senhores irão exercer, fiquem certos, o mais sublime, belo, nobre e humano dos ofícios.
Por isso, dêem a glória ao Senhor!
Ouçam um sensato conselho de um grande mestre e cultor das belas letras, Dr. Newton Gonçalves, um dos fundadores da Faculdade de Medicina (FAMED) da Universidade Federal do Ceará:
“Não vos deixeis, contudo, absorver completamente nos estudos médicos. Frequentai também os filósofos, os literatos, os sociólogos, pois, todas as profissões precisam de um derivativo para vencer o tedium vitae aniquilador. Não volteis as costas ao resto da vida por causa do estudo. Não renuncieis a nada que seja do homem”.
Não levem em conta, lhes peço, o delicado cenário onde algumas autoridades de forma perversa, tentam colocar a categoria médica contra aqueles que, exatamente, foram nossa razão de sermos sanadores. Isto pode confundir alguns incautos, durante certo tempo, mas, logo a verdade irá aflorar.
Os senhores são seres livres para escolherem a especialidade que lhes aprouver e exercer suas nobres missões em qualquer lugar que desejarem, sem imposição de terceiros.
Assim reza o estatuto dos homens. Assim deve ser a vida.
Sejam livres como a água que corre nos regatos entre as pedras do caminho, sem pedir licença a ninguém; livres como as aves que, alegremente, riscam os céus, em seu perene gozo; livres como o vento buliçoso que beija a face corada da menina, e vai embora, sem olhar para traz.
Todos, sim, ansiamos por mais profissionais médicos, mais saúde, mais moradia, mais emprego, mais saneamento, mais segurança, mais fraternidade, mais escola, mais lazer, pois enfim, somos irmãos e irmãs, habitantes e passageiros deste planetinha de nada, da bondosa Mãe – Gaia, girando perdido na imensidão do universo, mas tendo em nossas mãos uma infinita responsabilidade junto às futuras gerações. Acompanho, sempre com incontido júbilo, e uma ponta de orgulho, nas redes sociais, os senhores terçando armas em favor de um mundo melhor, verberando indignação de algumas políticas públicas equivocadas. Isto me reporta ao visionário Darcy Ribeiro, quando dizia, em sua lucidez de gênio:
“Só há duas atitudes na vida: se resignar ou se indignar; e eu não vou me resignar nunca!”
Os senhores, em breve, se tornarão médicos, emissários de Deus, e cidadãos do mundo, e onde houver qualquer ser senciente, com algum agravo, necessitando dum regaço, de uma palavra amiga, humildemente se apresentem. Sigam em frente, não tenham medo, ouçam seu dáimon, que lhes guiará para a direção correta.
O que posso eu lhes sugerir, após viver 50 anos como um modesto pastor de almas, um eterno aprendiz, na mesma cidade – Fortaleza – sempre cercado de bondosos mestres, e de muitos acadêmicos de medicina, estes, os maiores incentivadores para que eu continue na senda do saber:
Que sejam solidários e aprendam a pedir perdão aos pequenos equívocos, como um aprendizado para reconhecer os grandes tropeços. Não se calem diante das injustiças, pois o silêncio pode gerar a corrupção.
Que sejam fortes e aprendam a perdoar, mesmo que o perdão não seja merecido. Mantenham a calma nos momentos de desespero.
Façam alguém feliz, ainda que vocês estejam com o coração em pedaços. Consolem ao que necessita de consolo.
Que sejam humildes. Desistam de querer ter sempre a razão. Estejam sempre dispostos a escutar e a aprender. Aí mora a grandeza.
Ninguém está mais vazio do que aquele que está pleno de si mesmo.
Ser humilde é calar e escutar o grito do silêncio.
Não procurem só as respostas, procurem compreender as perguntas.
Que sejam justos; não se pode viver sem limites, nem sem leis.
Mas quando vivifica o amor as leis não são necessárias.
A justiça é a equidade distributiva: ao que tem mais, deve – se dar um pouco menos, para dar um pouco mais a quem tem menos.
Que sejam felizes: vivam para os demais. Desejem o bem para todos. Cumpram com seus deveres.
Que os céus lhes cubram de bênçãos e lhes proporcionem uma longa e venturosa jornada eivada de sucessos!
Dr. Francisco José Costa Eleutério (*)
Nascido em Fortaleza no dia 5 de janeiro de 1949. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, no ano de 1973. Cursou residência médica nos anos de 1973 e 1974 no Hospital César Cals. Recebeu título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO no ano de 1976, e em Ultrassonografia pelo Colégio Brasileiro de Radiologia, em 1978. Integrou a equipe de professores do curso de medicina da UECE. Desde o ano de 1982, através de concurso público presta serviços no Hospital Geral de Fortaleza. Pertence à Academia Cearense de Medicina, Academia Cearense de Médicos Escritores, e Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.