Medicina e Arte
Capa da Edição Nº 69
O quadro The Doctor, de 1891, pintado por Samuel Luke Fildes, talvez seja umas das mais importantes obras de arte que representam a relação médico-paciente e que inspiram há décadas o exercício da profissão médica.
Esse quadro foi encomendado pela rainha Vitória, intermediado por Sir Henry Tate. Luke Fildes ao pintar o quadro, se inspirou na sua própria vida, mas precisamente na tragédia da morte do seu primeiro filho, Felipe, em 1877, na noite de natal, possivelmente pro febre tifóide. A forma como o médico tratou seu filho naquele momento, marcou profundamente o artista. Todo o caráter, comprometimento e imersão do dr. Murray diante da ansiedade da família, virou um símbolo de devoção a profissão que, anos depois, inspirou o Sr. Luke Fildes a pintar o quadro, The Doctor.
O quadro apresenta como cenário uma casa simples, rústica, ao centro da obra, nada mais do que o olhar fixo do médico para criança, em uma posição contemplativa, a testa franzida, a mão apoiada no queixo, ao mesmo tempo que transparece autoridade, mostra a calma e a preocupação com a paciente.
Os primeiros raios de luz entram pela janela à direita, iluminando a mãe, debruçada sobre a mesa, com as mãos em oração, em profundo sofrimento. O lampião a esquerda, ainda acesso, mostra que o médico passou a madrugada ao lado da criança. O pai, com a mão no ombro da esposa, tenta consola-lá, ao mesmo tempo que olha para o médico, colocando nele toda sua esperança. Na mesa, garrafa medicinal; no banco, bacia e jarro para aliviar a febre; no chão, pedaços de papel, talvez de receitas feitas pelo médico; enquanto a menina está debruçada sob um leito improvisado por duas cadeiras.
O quão humana e respeitosa é essa obra? O quando devemos ao Sr. Luke Fildes por nos ensinar tanto em uma única imagem? O BMJ, em 1982 menciona: “Uma biblioteca de livros em nossa homenagem não faria o que esta imagem tem feito e fará para a profissão médica no sentido de tornar os corações dos nossos companheiros calorosamente confiantes e afetuosos para conosco”.
Essa obra me acompanha desde o início da faculdade, quando pela primeira vez a vi, de lá para cá, está presente em todas as minhas aulas para que eu sempre possa lembrar, e também ensinar, qual a missão do médico, como devemos nos portar perante ao paciente e sua família, para reforçar o comprometimento, a humildade, o respeito, mas acima de tudo para nos tornar mais humanos na nossa profissão.