Dircurso proferido na cerimônia de encerramento da Residência Médica em 2023
Bom dia a todas e todos. Cumprimento, em nome dos residentes, a mesa aqui presente, na pessoa do provedor, Dr Luis Marques, e a plateia que respeitosamente se põe a ouvir. Sou Ernando Sousa, concludente da residência de Clínica Médica e representante dos residentes na Comissão de Residência Médica. Fui convidado pelo Dr Yvamberg Sena para falar em nome da nossa classe e, muito honrado, assim o faço.
Há um provérbio chinês que diz: o bom viajante sabe aonde vai, mas o melhor viajante sabe de onde veio. E uma vez formados nesse nosocômio, saber um pouco de sua história, nos abrilhanta e engrandece. Essa casa que nos acolheu, tem gravada em sua história expressivas marcas da saúde pública da capital.
Aqui foi berço do Hospital de caridade, que viria a ser, em 1861, reinaugurado como Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Esta casa, que como sempre frisa Dr Otho Leal, tem uma santa causa, a de ter compaixão aos mais desvalidos, aos invisíveis, aos que sofrem. O paciente que aqui adentra tem assistência digna para com suas dores e aflições. Desde a epidemia de febre amarela no século XIX, passando pelas mazelas da seca, em 1915, sempre acolheu os mais necessitados em busca de melhor saúde física, mental e espiritual.
Este hospital também foi campo de trabalho de Joaquim Alves Ribeiro, seu primeiro médico. Filho de Icó, no Ceará, graduou-se médico em Harvard e retornou ao estado natal para exercer sua nobre arte, sendo nomeado “médico da caridade”. Preocupado com a saúde do nosso estado, escreveu e editou o livro “Manual da parteira”, lançado também no ano de 1861, com o intuito de orientar as praticantes de parto no Ceará. Livro esse presente na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América.
Campo de prática da primeira escola médica do Ceará por mais de uma década, é visível que desde a sua fundação, com as publicações de Joaquim Ribeiro, a educação sempre foi uma vocação desse hospital.
Aqui também se fez ancoradouro de muitas modernidades: O primeiro serviço de radiologia do estado em 1925, o primeiro pronto-socorro com Dr José Frota, o centro cirúrgico com maior capacidade instalada, o primeiro elevador com capacidade para macas, entre outras. Muitos avanços vistos na medicina primeiro chegaram nesse recinto antes de qualquer outro do estado.
Passaram pelos pavilhões dessa casa inúmeros profissionais que foram aqui educados enquanto médicos e tantos outros que educaram legiões de alunos. William Osler, pai da clínica moderna, já dizia que a medicina é aprendida à beira do leito, e não no anfiteatro. Dr Pessoa, um dos expoentes da gastroenterologia nacional e que cuidou de doentes nessa casa, dizia que o dinheiro na medicina é fácil de ganhar, o conceito profissional, muito mais difícil.
A residência médica é esse ensino à beira-leito, em busca de aprender com os mestres e angariar habilidades e conceito profissional para melhor cuidar dos que nos procuram.
Aqui temos vários serviços com ensino. São eles: clínica médica, cirurgia geral, urologia, coloproctologia e cirurgia de cabeça e pescoço. Formam-se, hoje, 15 residentes, com a tutela de grandes nomes de cada especialidade e com a chancela do bem servir que essa casa se compromete desde os seus alicerces.
Muitos aqui formados mantém-se no corpo clínico da instituição, como plantonistas e preceptores, praticando a boa assistência e ensinando aos mais noviços a arte de cuidar.
A caminhada até aqui foi longa. Muitos ensinamentos, aprender a lidar com a dor, a morte e o morrer, cuidar e confortar quando necessário. Aprender técnicas e habilidades. O raciocínio clínico dirigido como a alma e essência do nosso ofício.
O grande poeta modernista espanhol, Antonio Machado, registrou: caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar. Nada melhor que essa citação para exemplificar o percurso de um residente. Um período pandêmico e recursos escassos, como salientou o Dr Vladimir Spinelli em artigo recente, atravessaram essa nossa trajetória. Como bem exclamou Isaac Newton, contudo, se chegamos até aqui foi porque nos apoiamos em ombros de gigantes.
Agradeço, em nome de todos, às equipes multiprofissional e administrativa, que muito facilitaram o nosso trabalho. E ao mais importante, o paciente: este que permite que invadamos sua privacidade, seu pudor, que nos confia sua vida. A ele devemos toda a reverência, pois pelo nosso ensino e aprendizado, este se põe como partícipe ativo e o maior dos livros-textos. Que ele sempre tenha de todos o respeito que lhe é devido e justo.
Aqui se cuida de gente. Hipócrates dizia: “Quanto à medicina, tal como eu a concebo, penso que o seu objetivo, em termos gerais, é o de afastar os sofrimentos do doente e diminuir a violência das suas doenças, abstendo-se de tratar os doentes graves para os quais a medicina não dispõe de recursos”. A Santa Casa de Fortaleza cumpre esse papel nobre exposto pelo primeiro grande pensador da medicina no mundo ocidental. Em nome de todos que concluem hoje, um muito obrigado pelos anos que passamos em aprendizado, sempre mantendo a humildade e o dever de cuidar do mais necessitado como se fosse um rei.
Fortaleza, 28 de fevereiro de 2023
Formandos:
Dr. Mateus Machado Bastos – Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Dra. Nayanne de Azevedo Frota Franklin – Coloproctologia
Dr. George Andrade Marques – Coloproctologia
Dr. Anderson de Sousa Jorge – Cirurgia Básica
Dr. Bruno Vieira Rodrigues – Cirurgia Básica
Dr. Paulo Roberto Araújo Barreto – Cirurgia Básica
Dra. Fernanda Holanda Menezes – Cirurgia Geral
Dra. Ana Beatriz da Costa Guerreiro Henriques – Clínica Médica
Dra. Camille Abreu Siebra – Clínica Médica
Dr. José Ernando de Sousa Filho – Clínica Médica
Dr. Lucas Vasconcellos Fonteles Teixeira – Clínica Médica
Dr. Thiago Felizardo dos Santos – Clínica Médica
Dr. Thiago Silva Teixeira – Clínica Médica
Dr. Guilherme Bruno Fontes Vieira – Urologia
Dr. Ezequiel Aguiar Parente – Urologia