Doenças cardiovasculares: estratificação de risco e prevenção.
A doença cardiovascular é a principal causa de morte no Brasil e no mundo, o que leva ao aumento da morbidade do indivíduo ao longo da vida. Tendo em vista o envelhecimento populacional, isso se torna ainda mais relevante pela maior prevalência de doenças crônicas não trasmissíveis, sendo a doença cardiovascular um componente importante.
Existe uma série de fatores de risco clássicos que aumentam a probabilidade dessa enfermidade como hipertensão, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, tabagismo, diabetes e história familiar. A presença destes vai nortear a condução individual quanto a prevenção primária e secundária.
Uma forma de estimar a ocorrência e a gravidade da doença cardiovascular é por meio do cálculo de escores de risco e algoritmos baseados em estudos populacionais. Um dos escores bastante difundido é o Escore de Risco Global de Framingham (ERG) que mede a estimativa de eventos coronarianos, cerebrovasculares, doença arterial periférica ou insuficiência cardíaca no período de 10 anos.
Este é o escore adotado pelo Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC-DA). O ERG avalia os seguintes fatores: sexo, idade, pressão arterial sistólica, uso de medicação anti hipertensiva, tabagismo, uso prévio de estática e níveis de colesterol total e HDL-c. Indivíduos que apresentam múltiplos fatores de risco, aterosclerose subclínica ou que já tiveram doença cardiovascular manifesta, possuem risco elevado para eventos e podem ser classificados de forma diferenciada. Assim a SBC-DA propôs uma nova estratificação de risco que enquadra o indivíduo em um dos quatro níveis de risco cardiovascular: risco muito alto, alto, intermediário e baixo.
A avaliação do paciente deve partir sempre da estratificação de risco, a medida que, após consciente do risco daquele paciente, pode-se traçar metas e alvos terapêuticos a serem buscados. Risco muito alto: indivíduos que apresentam doença aterosclerótica significativa (obstrução maior ou igual a 50%), seja ela coronariana, cerebrovascular ou vascular periférica com ou sem eventos clínicos.
Risco alto: pacientes homens com ERG >20% ou mulheres >10%, presença de aterosclerose subclínica, aneurisma de aorta abdominal, doença renal crônica com taxa de filtração glomerular <60ml/min, LDL-c elevado (>190). Risco intermediário: homens com ERG entre 5-20% e mulheres entre 5-10%, além de portadores de diabetes mellitus sem doença aterosclerótica subclínica. Baixo risco: indivíduos adultos de 30 a 74 anos de ambos sexos com ERG<5%.
As metas terapêuticas guiadas pela estratificação de risco orientam um controle maior em relação aos níveis de LDL-c e não HDL-c, sendo as recomendações: muito alto risco LDL-c <50mg/dL e não HDL-c <80mg/dL, alto risco LDL-c <70mg/dL e não HDL-c <100mg/dL, risco intermediário LDL-c <100mg/dL e não HDL-c <130mg/dL e baixo risco LDL-c <130mg/dL e não HDL-c <160mg/dL.
Para alcançar tais metas dispõe-se de medidas não farmacológicas e farmacológicas. Terapia nutricional, perda de peso e a prática de atividade física devem ser recomendadas a todos os pacientes, tanto para auxiliar no tratamento da dislipidemia e da obesidade, bem como a prática de exercícios como um combate ao sedentarismo. A terapia medicamentosa inclui as estatinas como primeira escolha para o tratamento da hipercolesterolemia por apresentarem boas evidências na redução de mortalidade por todas as causas, de eventos isquêmicos coronarianos, da necessidade de revascularização e de AVC.
Além do ajuste do perfil lipídico guiado por metas terapêuticas, não se pode esquecer do controle efetivo da pressão arterial e da glicemia, como também a cessação do tabagismo para melhor prevenção da doença cardiovascular.
Em 29 de setembro comemoramos o Dia Mundial do Coração. Data bastante importante, tendo em vista a grande relevância do sistema cardiovascular quando falamos de saúde individual e coletiva. O coração juntamente com os vasos sanguíneos compõem o sistema cardiovascular, carregam a vitalidade do organismo e estão sujeitos a diversas patologias que interferem no bem estar, na qualidade de vida e na longevidade do indivíduo.
As doenças cardiovasculares são as principais causadoras de morte em todo o mundo, o que parece bastante assustador, porém a maioria dos fatores de risco são considerados modificáveis a medida que são identificados e adequadamente tratados. Com exceção da idade, sexo e história familiar, os demais fatores de risco como obesidade, sedentarismo, tabagismo, etilismo, hipertensão arterial e diabetes mellitus são potencialmente reversíveis ou controláveis.
Inicialmente precisamos falar de prevenção! Um estilo de vida saudável priorizando o cuidar de si com a prática de atividade física, alimentação balanceada, cessação de hábitos como o tabagismo e o etilismo e avaliação médica de rotina fazem parte da prevenção básica de doenças cardiovasculares. No caso de indivíduos que já possuem o diagnóstico de alguma comorbidade, torna-se essencial o acompanhamento e tratamento médico visando o controle da doença e a busca de metas terapêuticas individualizadas para cada caso. Até mesmo em pacientes já portadores de alguma enfermidade existem formas de reduzir os riscos e melhorar a qualidade de vida daquele doente, o que deve ser visto e discutido com o médico.
Importante lembrar de quando se deve procurar o cardiologista. Mesmo pessoas jovens, assintomáticas, mas se tiverem história familiar de doença cardíaca em parentes próximos devem procurar fazer sua avaliação. Aqueles que apresentam principalmente dor torácica, palpitações, falta de ar, picos pressóricos ou inchaço em membros inferiores precisam com maior brevidade de uma consulta médica com um cardiologista.
A melhor conduta é a prevenção e ela está sempre ao alcance.
Dra. Thaís Alexandrino de Oliveira – CRM: 18600 / RQE: 12776
Médica Cardiologista da Clínica Pulse – Centro Cardiológico, Médica Cardiologista Diarista do Hospital do Coração de Messejana, Médica Clínica do Complexo Hospitalar EBSERH.