
O problema do mercado de suplementos no Brasil
O mercado de suplementação no Brasil tem surpreendido com um crescimento expressivo nos últimos anos, impulsionado pela crescente conscientização sobre saúde, aliada ao interesse do consumidor em estética e longevidade. De acordo com dados publicados pela Bloomberg, o setor de nutrição esportiva, que inclui produtos como creatina e whey protein, registrou um aumento de quase 69% no faturamento entre 2019 e 2023, com projeções de mais que dobrar nos próximos quatro anos, alcançando R$ 9,6 bilhões.
Esse avanço reflete uma mudança no perfil dos consumidores. Antes, os suplementos alimentares eram consumidos principalmente por atletas e frequentadores de academias, mas isso vem mudando, principalmente após a pandemia. A preocupação com longevidade e bem-estar é latente, e a população geral demonstra estar disposta a investir cada vez mais, independentemente da faixa etária e econômica.
Como nutricionista atuante, confesso que, apesar do crescimento do mercado ser positivo, me sinto cada vez menos seguro em prescrever suplementos alimentares para os pacientes. Isso se deve à grande quantidade de marcas reprovadas em testes de qualidade e à facilidade com que falsificadores anunciam e vendem seus produtos em plataformas digitais (marketplaces), como Mercado Livre e Amazon.
Em maio de 2024, a Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) realizou testes que resultaram na reprovação de 25 marcas de creatina. Dessas, 10 apresentaram variações de 100%, indicando que os produtos sequer continham creatina em sua composição. Além disso, a prática conhecida como “amino spiking”, que consiste em adicionar aminoácidos de baixo custo para aumentar artificialmente o teor de proteína no whey protein, tem sido identificada em diversos produtos testados por agências reguladoras.
É fundamental que os consumidores estejam atentos à procedência dos suplementos que adquirem, visto que produtos falsos e adulterados podem causar reações alérgicas e comprometimentos intestinais graves, além do prejuízo financeiro. Diante desse cenário, sempre recomendo que os pacientes sigam quatro passos antes de comprar qualquer suplemento:
- Pesquise a reputação da marca: Verifique se o fabricante já teve produtos reprovados em laudos técnicos ou se possui excesso de reclamações em plataformas como o Reclame Aqui.
- Evite compras em marketplaces de terceiros: Prefira lojas oficiais e desconfie de vendedores não verificados.
- Desconfie de preços muito baixos: Isso pode indicar adulterações ou falsificações.
- Busque lojas físicas confiáveis: Estabelecimentos tradicionais costumam adotar critérios mais rigorosos na seleção de fornecedores.
Além dessas precauções, é essencial consultar profissionais qualificados, como nutricionistas e médicos, antes de iniciar qualquer suplementação. A individualização do consumo é crucial, pois mesmo produtos devidamente regulamentados podem não atender às necessidades específicas de cada pessoa e até gerar interações com condições de saúde pré-existentes.
O crescimento do mercado de suplementação no Brasil demonstra um potencial promissor, mas sua consolidação depende de um equilíbrio entre inovação, segurança e fiscalização rigorosa. A atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de entidades independentes precisa ser intensificada para garantir que apenas produtos seguros cheguem ao consumidor. Ao mesmo tempo, o público deve assumir um papel mais crítico, buscando informações confiáveis antes de investir em qualquer suplemento.
Por fim, reforço meu papel de nutricionista e consumidor, orientando pacientes em consulta e divulgando informações responsáveis por meio das redes sociais.

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