Precisamos falar de rastreamento do câncer de pulmão

O câncer de pulmão é um dos tipos de câncer mais comuns e o mais letal no mundo, sendo responsável por cerca de 13% de todos os casos novos de câncer e 18% das mortes por câncer. A principal causa do câncer de pulmão é o tabagismo, que aumenta em até 20 vezes o risco de desenvolver a doença e pode ser considerado fator causal em 85 a 90% dos casos. Outros fatores de risco incluem exposição à poluição do ar, radiação, amianto e alguns agentes químicos.

 

O diagnóstico precoce do câncer de pulmão é fundamental para aumentar as chances de cura e reduzir a mortalidade. No entanto, a maioria dos casos é descoberta em estágios avançados, quando os sintomas já são evidentes e o tratamento é menos eficaz. Por isso, o rastreamento do câncer de pulmão é uma estratégia que visa identificar lesões suspeitas nos pulmões de pessoas assintomáticas que pertencem a grupos de alto risco, como fumantes ou ex-fumantes com longa história de tabagismo.

 

O rastreamento do câncer de pulmão consiste na realização periódica de um exame de imagem chamado tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD), que utiliza uma pequena quantidade de radiação para obter imagens detalhadas dos pulmões e detectar nódulos ou massas que podem ser malignas, bem como outros achados relevantes relacionados ao tabagismo, como enfisema, bronquite, doenças intersticiais e doença ateromatosa coronariana. A TCBD é mais sensível e específica do que a radiografia convencional de tórax, que não é recomendada para o rastreamento do câncer de pulmão.

 

O rastreamento do câncer de pulmão não é indicado para todas as pessoas, mas apenas para aquelas que têm um alto risco de desenvolver a doença e que podem se beneficiar da detecção precoce. Segundo as recomendações da American Cancer Society e a U.S. Preventive Services Task Force, o rastreamento do câncer de pulmão deve ser oferecido para pessoas entre 50 e 80 anos, que tenham fumado pelo menos 20 maços/ano (por exemplo, dois maços por dia durante 10 anos ou um maço por dia durante 20 anos) e que sejam fumantes atuais ou que tenham parado de fumar há menos de 15 anos.

 

Além disso, as pessoas que optam pelo rastreamento devem estar informadas sobre os possíveis benefícios e riscos do exame, ter acesso a um centro especializado em diagnóstico e tratamento do câncer de pulmão e estar dispostas a realizar o tratamento adequado caso seja detectada alguma anormalidade. Também é de suma importância a cessação do tabagismo, sendo os melhores resultados de redução de mortalidade atingidos em subgrupos que conseguiram a abstinência.

 

Os benefícios do rastreamento do câncer de pulmão incluem a possibilidade de diagnosticar a doença em estágios iniciais, quando o tratamento é mais efetivo e menos invasivo, e a redução da mortalidade por câncer de pulmão. Um grande estudo clínico realizado nos Estados Unidos mostrou que o rastreamento com TCBD em pessoas com alto risco diminuiu em 20% o risco de morte por câncer de pulmão em comparação com o grupo que não fez o rastreamento.

 

Os riscos do rastreamento do câncer de pulmão envolvem a exposição à radiação, que pode aumentar o risco de outros tipos de câncer a longo prazo, embora esse risco seja considerado baixo; os falsos positivos, que são resultados anormais que não correspondem a um câncer verdadeiro, mas que podem gerar ansiedade e necessidade de exames adicionais invasivos, como biópsias; os falsos negativos, que são resultados normais que podem deixar passar um câncer existente; e os sobrediagnósticos, que são casos de câncer que nunca causariam sintomas ou morte, mas que são tratados desnecessariamente.

 

A despeito de amplas recomendações de quase todas as sociedades especializadas, o rastreamento de câncer de pulmão ainda tem sido pouco adotado. De fato, estima-se que apenas aproximadamente 15% dos candidatos elegíveis nos EUA fizeram rastreamento.  Possivelmente no Brasil este número seja menor ainda. Portanto, faz-se necessária a conscientização de todos os profissionais de saúde que lidam com os pacientes elegíveis para indicarem este serviço aos seus pacientes.

Dr. Noberto de Lima – CRM: 11966 / RQE: 8402 Membro Titular do CBR –Radiologista da Divisão de Radiologia Cardiotorácica da São Carlos Imagem - Clínica Beroaldo Jurema.

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