Santa Inovação

Dois anos antes do achamento do Brasil, em 1498, a rainha de Portugal, Dona Leonor de Avis, criava umas das primeiras organizações não-governamentais da História, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. Criava assim uma inovação integrando a aristocracia, a elite econômica, a nobreza e o poder à assistência aos mais humildes e vulneráveis da sociedade. Inovação essa, que cerca de meio milênio depois segue viva na defesa de valores sólidos nos tempos líquidos e incertos do século XXI.

 

A coroa portuguesa, desde o século XVI, a par e passo ao processo de colonização implementou as irmandades de misericórdia e suas belas edificações nas terras além-mar. Em 1539 implantou-se a primeira Santa Casa em Olinda, em 1543, Santos, em 1549, Salvador. No seu propósito pioneiro destacava-se a caridade, a assistência física e espiritual aos negros, soldados, presos, mulheres e crianças rejeitadas pelas comunidades, o apoio à saúde mental e espiritual e o acesso a uma morte e sepultamento dignos, inclusive com a gestão de cemitérios vinculados às irmandades.

 

O modelo funcionou. Centenas de Santas Casas e suas irmandades se espalharam pela então colônia, depois pelo império e finalmente na república. Ao longo desse tempo as Santas Casas tornaram-se grandes incubadoras de dois processos estruturantes para o sistema de saúde: a implantação dos primeiros cursos de Medicina, e a oferta de uma rede assistencial hospitalar sustentável integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Em 1989, o autor deste artigo dava seus primeiros passos na sua formação médica fazendo curativos em pacientes das enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, uma vivência de aprendiz para sempre guardada na memória.

 

Nascida em 1861, a Santa Casa é a guardiã, na capital cearense, desta inovação secular. Como tal, a Santinha também passa por ciclos, ora de prosperidade, excelência e alta produtividade, ora por dificuldades, ameaças e necessidades de se reinventar ante o novo que sempre vem.

 

Atendendo ao chamado e à proposta do seu novo provedor, o professor Vladimir Spinelli, aceitei com entusiasmo o desafio de conduzir a sua recém criada Diretoria de Inovação. A missão é nobre e deve se alinhar e fortalecer a visão e metas da atual gestão, quais sejam, torná-la uma instituição de excelência na assistência, no ensino, na pesquisa na área da saúde, sustentável e inovadora. 

 

Nas palavras do provedor, a ênfase na inovação é questão de sobrevivência e competitividade. Assim é que qualquer processo inovador de fato transformador necessita ser construído de modo colaborativo por quem cria, faz, apoia e se beneficia dos seus serviços.

 

Todos que se engajam nas suas atividades finalísticas e na sua gestão, bem como os atores sociais que compartilham dos seus valores cristãos, da misericórdia, da inclusão social, e de uma sociedade mais justa, pacífica e feliz são convidados de honra nessa jornada. Santa inovação!

 

Prof. Dr. Marcelo Alcantara (*) CRM: 6702 / RQE: 14435

Prof. Associado de Pneumologia e Terapia Intensiva da Universidade Federal do Ceará

Idealizador e fundador da Plataforma Xlung para Ensino sobre Ventilação Mecânica

Idealizador do Capacete ELMO para suporte respiratório.

Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará 2019-2022

Prof. Dr. Marcelo Alcantara (*) CRM: 6702 / RQE: 14435 Médico Pneumologista e Intensivista PhD pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP @marcelo_alcantara_md

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